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Dá pra jogar Doom… com bactérias?

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Ao longo dos últimos anos (pelo menos nos últimos 10 anos, mas podem ser mais), testemunhamos várias formas alternativas para jogar o lendário game Doom, mostrando a enorme popularidade do título entre as diferentes gerações.

Mas jamais iria imaginar que chegaríamos ao ponto de rodar o jogo em uma tela feita de bactérias. Então… essa é a proposta do experimento de Lauren Ramlan, uma estudante de engenharia biológica no MIT, que criou uma tela baseada em células de Escherichia coli para rodar o clássico jogo de tiro em primeira pessoa.

Neste post, eu explico como funciona essa inusitada combinação de biotecnologia e tecnologia de jogos, quais são os desafios e as limitações do projeto, e o que ele representa para o futuro do entretenimento digital.

 

De onde a Ramlan tirou essa ideia?

O experimento de Ramlan é uma extensão de um trabalho anterior de 2020, intitulado “Programming Escherichia coli to function as a digital display”.

Nesse trabalho, os autores desenvolveram uma forma de controlar a fluorescência das células de E. coli por meio de “pares represor-operador”, que são elementos genéticos que regulam a expressão de genes.

A ideia é usar esses pares como “interruptores” que podem ser ligados ou desligados por estímulos externos como luz ou temperatura.

A partir dessa técnica, Ramlan criou uma tela composta por 1.536 células de E. coli organizadas em um formato de 32 x 48 “pixels”. Cada célula pode ser programada para emitir luz verde ou vermelha, dependendo do estímulo recebido.

Assim, a tela pode reproduzir imagens simples como letras ou números. E, em uma escala maior, com tempo e dedicação sobrando, o jogo Doom.

 

Como é jogar Doom em uma tela tão rudimentar?

Ramlan utilizou um método de thresholding para determinar quais pixels devem ser ativados ou desativados, reproduzindo assim os frames do jogo.

O thresholding é um processo que converte imagens coloridas em imagens binárias (preto e branco), definindo um limiar para separar os pixels claros dos escuros. Dessa forma, a tela pode exibir uma versão simplificada do Doom com apenas duas cores.

Como você já pode imaginar a essa altura do artigo, o processo não é tão simples quanto parece.

Para simular as células e processar cada frame, Ramlan teve que usar um computador poderoso e um software específico. Além disso, as células não respondem instantaneamente aos estímulos, levando um tempo para atingir a iluminação máxima ou retornar ao estado “off”.

Isso significa que a taxa de atualização da tela é extremamente baixa, tornando impossível jogar Doom em tempo real. Mas se você quiser tentar, fique a vontade: não pode ser pior que o delay dos jogos online provocados pela internet capenga que temos no Brasil.

Os resultados da simulação indicam que a tela leva 70 minutos para atingir a iluminação máxima, e 8.3 horas para retornar ao estado “off”. Jogar Doom sob essas condições levaria incríveis 599 anos, considerando as limitações atuais do experimento.

Ramlan reconhece que o projeto é mais uma prova de conceito do que uma aplicação prática, mas espera que ele possa inspirar outros pesquisadores a explorar as possibilidades da biotecnologia para o entretenimento.

No final, apresentamos mais uma forma de rodar Doom, mas não necessariamente jogar o game. O que já é alguma coisa.

O mais importante aqui é essa intersecção entre biotecnologia e jogos, oferecendo uma perspectiva única sobre o uso de organismos vivos em aplicações tecnológicas.

Ainda estamos longe de uma integração total, pois as limitações de desempenho são mais do que evidentes. Essa abordagem para o entretenimento digital ainda é questionável nos quesitos de viabilidade… neste momento.

Nada impede de pensar que, em um futuro distante, as telas orgânicas sejam capazes de rodar jogos complexos. Não podemos nos esquecer que toda evolução tecnológica é construída a partir da curiosidade de alguém em testar uma solução.

E nossa amiga Lauren foi curiosa o suficiente para nos entregar algo bem interessante.


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@oEduardoMoreira