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Primeiras Impressões | Xuxa Meneghel (Record, 2015)

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Enfim, aconteceu. Depois de 30 anos na Rede Globo, menina Maria da Graça está em uma nova casa, com um novo programa, iniciando uma nova fase de sua vida. Xuxa Meneghel (a pessoa jurídica) dá continuidade na sua vida profissional na Record, com Xuxa Meneghel (o programa de TV), uma proposta completamente diferente de tudo o que ela já fez na sua carreira, mas algo já conhecido de quem está por dentro dos meandros da televisão.

Em linhas gerais, Xuxa Meneghel é ‘altamente inspirado’ (para não dizer uma cópia carbono) do programa ‘Ellen’, talk show diurno comandado pela comediante Ellen DeGeneres nos Estados Unidos. E não falo só do formato do programa, mas também do seu visual. A própria Xuxa foi repaginada para se aproximar da apresentadora norte-americana, inclusive usando as mesmas roupas, adotando um corte de cabelo semelhante, os mesmos trejeitos, os recursos de interação com o público (passar junto da plateia) e outros detalhes menores.

A cópia é tão descarada, que é de se desconfiar que ou a Record adquiriu os direitos de utilização do formato, ou que em breve teremos uma Ellen DeGeneres um tanto quanto brava se pronunciando sobre o assunto. Eu prefiro acreditar na primeira hipótese, uma vez que foram utilizadas imagens da própria Ellen para uma das piadas do programa.

Logo, entendemos que Xuxa Meneghel é um programa de variedades, onde Xuxa vai coordenar a bagunça toda. Uma bagunça que passeia entre o sofisticado e o brega o tempo todo. Um cenário gigante e muito bem construído está disponível para a apresentadora. Porém, isso é parcialmente neutralizado com a já conhecida produção da Record, que é fraca e de mau gosto em algumas situações.

Aliás, o programa se alterna entre pontos positivos e negativos com muita facilidade.

Como lado positivo, temos a Xuxa de volta na televisão. Ela é carismática, tem uma base de fãs fiéis gigantesca, e como bem verificamos nas redes sociais durante a sua estreia, ela ainda tem o potencial de atrair todas as atenções para si. Sem falar que muita gente está contente em ver uma Xuxa mais livre, destravada… finalmente adulta. Uma adulta que fala besteiras e que às vezes temos a impressão que ela está bêbada ou drogada. Mas tudo bem! Melhor assim.

Por outro lado, Xuxa Meneghel (o programa) ainda tem problemas sérios. Talvez pelo fato de ser a estreia, o nervosismo e o amadorismo da Record pesaram, e tudo isso deixou o programa sem ritmo e se alternando em algumas partes divertidas (como ela pedindo desculpas para a ‘Cláudia’ do ‘Ah, Senta Lá, Cláudia’) e outras bem desinteressantes (entrevista com o elenco da novela Os 10 Mandamentos – que, convenhamos, é um bando de avulsos).

Aliás, Xuxa exagerou na vontade de ser troll. Ficou muito ‘over’ a esquete onde ela parodia a novela bíblica do seu novo canal (poderia ser algo bem mais curto), e algumas das tentativas dela ser engraçada e descolada foram simplesmente muito irritantes. É claro que eu não quero ver a Xuxa da Rede Globo, toda moldada e engessada. Mas se for para ver essa Xuxa todas as semanas, certamente eu vou me irritar. E muito.

Outro problema de Xuxa Meneghel foram as ‘cututacas’ em cima da Rede Globo. Nada contra. Até gosto do bullying que ela fez com o antigo canal. Porém, é hora de seguir em frente. Essa fase da vida dela acabou, e a melhor coisa que ela pode fazer por ela mesma nesse momento é se desvincular da antiga imagem da ‘rainha dos baixinhos’. Aliás, essa ‘rainha dos baixinhos’ morreu ontem.

Xuxa hoje faz TV para a audiência adulta, definitivamente. E não falo isso apenas por causa do horário que o programa vai ao ar. A proposta geral do programa é bem clara: entretenimento para jovens adultos e, principalmente, adultos. Um dos sinais claros disso é a presença do tal sofá em um palco. O sofá, que ficou tão famoso na TV brasileira por causa de Hebe Camargo – e que desapareceu da nossa TV com a sua morte -, está de volta. Não é uma ‘homenagem’ como uns e outros disseram, já que o programa da Ellen (a principal referência para o programa da Xuxa) utiliza esse mesmo sofá (inclusive com Ellen em um sofá só dela). Porém, no caso do Brasil em particular, a referência com Hebe é inevitável.

Hebe Camargo é rainha nesse formato de programa. Mandou no horário por décadas. Estabeleceu os padrões no Brasil para esse tipo de programa. Logo, era inevitável que essas referências fossem estabelecidas, e Xuxa bem lembrou a apresentadora durante a estreia. Algo muito justo.

Enfim, sobre a estreia de Xuxa Meneghel, podemos dizer que ‘entre mortos e feridos, salvaram-se todos’. Ainda não temos os índices de audiência da noite de ontem (17), mas podemos afirmar, sem medo de errar, que pelo menos nas mídias sociais, o programa foi disparado um campeão de audiência. Até porque o programa ajudou a chamar a atenção desse galerê todo, mostrando que pretende brincar com as piadas da internet, e não bater de frente como outros programas e apresentadores fazem.

Xuxa Meneghel tem problemas sim. Precisa fazer os ajustes para ser um programa de variedades que seja mais divertido do que cansativo. Apesar de ser na Record (repito: eles manjam em fazer coisa ruim), eu torço de verdade para que o programa dê certo. Para criar uma alternativa nas noites de segunda-feira. E porque Xuxa merece. Ela pode não ser uma unanimidade junto ao público brasileiro, mas ela tem algo de diferente e especial que faz com que muita gente a acompanhe há mais de 30 anos.

Seria Xuxa a nova Hebe Camargo? Ainda não sabemos. Só o futuro vai dizer. Mas a resposta para essa pergunta começou a ser dada ontem.

E acho que Silvio Santos está de olho nisso… #ironic


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@oEduardoMoreira