Os smartphones modulares apareceram no meio da década passada, e aproveitava o conceito “Do It Yourself” (DIY) para vender a ideia que qualquer cliente poderia ter um telefone do jeito que queria, com as especificações técnicas que sonhava e podendo atualizar os seus componentes a qualquer momento.
Um verdadeiro sonho para qualquer pessoa que se sentia incomodada com o fato de ter pago caro em um dispositivo e, anos depois, descobrir que ele está totalmente defasado pelo tempo.
Pois é… a ideia era boa demais para se tornar realidade. Tanto, que jamais chegou a vingar no mercado.
Por que isso aconteceu? Por que os smartphones modulares jamais chegaram perto de ser aquilo que prometeram um dia?
Foram mortos pelo caminho
Estamos em 2022, e o mercado de smartphones está apontando para qualquer outro caminho, menos para o lado dos smartphones modulares. E isso acontece porque os poucos fabricantes que apostaram neste formato simplesmente desistiram da proposta ao longo do tempo.
Aqui, o principal destaque no quesito desistência via para o Google, que matou o Project Ara com aquela conversa que as nossas mães utilizavam para nos iludir todas as vezes que elas nos levavam para passear: o famigerado “na volta a gente compra”.
No caso do Google, o Project Ara sempre foi prometido como “uma revolução de futuro”. Acontece que esse futuro demorou tanto para chegar, que a gigante de Cupertino acabou vendendo a Motorola para a Lenovo e, por tabela, o projeto de smartphones modulares.
Já a Lenovo manteve o Project Ara vivo por mais algum tempo, lançando alguns produtos relacionados com o conceito. E no final, bem sabemos como tudo terminou: os telefones modulares simplesmente desapareceram.
No meio do caminho, outras tentativas de modularidade nos smartphones apareceram. Dois exemplos disso foram o patético LG G5, que exigia do usuário o ato de desligar o telefone para inserir outros módulos (e isso está bem longe de ser algo prático) e da própria Motorola, com o Moto Z e os seus módulos Moto Mods, que corrigiam o problema da colega sul-coreana, mas sem convencer aos usuários.
O que poderia ser uma verdadeira revolução no mercado de telefonia móvel acabou caindo no esquecimento com relativa rapidez. Hoje temos poucos conceitos de telefones modulares no mercado e, ainda assim, com visões diferentes daquela originalmente estabelecida pelo Project Ara.
Mas… é melhor do que nada.
O “Do It Yourself” não morreu por completo
A ideia do “faça você mesmo” não foi abandonada nos smartphones, apesar do desejo quase incontrolável dos fabricantes em impedir que o usuário aplique o conceito nos seus dispositivos.
Tantos esforços pela “Lei de Reparação” foram aplicados que hoje temos interessantes efeitos práticos que remetem ao conceito de modularidade dos smartphones, mesmo que de uma maneira distante.
Um dos mais claros exemplos do que estou falando está na Apple, que hoje oferece um kit de reparação para o iPhone, onde os usuários mais habilidosos nas questões técnicas podem consertar o seu smartphone sem ser obrigados a passar pela bancada de assistência técnica do fabricante.
De uma forma ou de outra, a ideia da modularidade está aqui: o usuário abre o dispositivo, troca os componentes defeituosos por outros que estão em pleno funcionamento, e pronto. O smartphone está apto para funcionar novamente.
Outros fabricantes decidiram seguir os passos da Apple, como foi o caso da Samsung, que conta com um programa de reparação de dispositivos semelhante. Sem falar dos poucos dispositivos que ainda preservam a ideia de modularidade na íntegra, como é o caso do Fairphone 4.
Aliás, o Fairphone 4 é até bem-intencionado, pois promete várias atualizações de hardware e software, fornecimento de novos componentes o tempo todo e suporte especializado. É a promessa do fim da obsolescência nos telefones móveis combinada com sustentabilidade. Mas até agora só vendeu 95 mil unidades, e não dá pinta que será um projeto promissor para o futuro.
Sem falar na Xiaomi, que chegou a registrar uma patente de um smartphone modular em 2021. Porém, muita gente sabe que ter uma patente registrada não necessariamente significa lançar um produto com esse conceito no mercado. Em muitos casos, as patentes só existem para que a empresa possa se proteger de outros fabricantes que vão lançar produtos “muito inspirados” nas ideias já registradas.
Ou seja, é fácil concluir que o futuro dos smartphones modulares tem mais dúvidas do que certezas. A maioria dos fabricantes que tentaram fazer o conceito vingar no mercado de telefonia móvel caíram pelo caminho. E com os dispositivos com tela dobrável ganhando cada vez mais protagonismo, a ideia do “Do It Yourself” nesse setor é cada vez mais esquecida.
Ou caminha de forma mais sustentável para o “Repare It Yourself”, que parece ser algo bem mais interessante para a maioria dos atuais usuários de smartphones.