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Uma fresta na janela

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Recentemente, eu descobri uma forma muito eficiente para deixar o meu apartamento menos quente e abafado durante o verão: basta deixar uma fresta da janela aberta, e deixar o fluxo de ar entrar.

Meu apartamento fica no centro de Florianópolis e, apesar dos vários prédios ao redor, ele não tem muitas correntes de vento. A não ser que o vento sul venha. Aí, qualquer poste recebe vento mesmo. Na região do calçadão, sempre tem uma brisa batendo por causa do conjunto de prédios no local. Mas aqui, no final da rua do TAC, não bate tanto vento assim.

Porém, se uma fresta na janela ficar aberta, o espaço é menor para o ar entrar e, eventualmente, ele entra mais rápido em função do vento, refrigerando melhor o apartamento.

Antes, eu acreditava que deixar a janela escancarada permitia uma melhor entrada de ar. Ledo engano: o que entrava era o ar quente e o calor do sol. O que não é ruim, mas… tente passar uma tarde no meu apartamento durante o verão, e você vai entender o que eu quero dizer.

Hoje, pensando nessa experiência cotidiana, compreendo que a vida me entregou mais uma metáfora de forma totalmente aleatória, mas que me faz prestar atenção para as mudanças que estou promovendo no meu interior nos últimos tempos.

Antes, era fácil acreditar que deveria aproveitar todas as oportunidades, e deixar as janelas escancaradas para receber o que vem do mundo. Nos tornamos abertos e acessíveis para tudo e todos quando temos a crença que, ao fazer isso, vamos receber o mesmo do mundo ao nosso redor.

Não é bem assim.

O Sol normalmente faz isso porque ele nunca nos abandona. Pode não se fazer tão presente assim nos dias nublados, mas ele está lá, enviando o seu calor de longe ou de forma mais limitada. E eu agradeço sempre ao Sol por mandar a sua luz e calor para o meu apartamento.

Eu sonhei com isso antes de chegar em Florianópolis.

Já as pessoas são mais dinâmicas, contam com comportamentos e personalidades variadas e, pasmem, assistem as novelas da Rede Globo achando que uma história de ficção é igual ao mundo real (quando na verdade a ficção se inspira na realidade, mas jamais será uma cópia dela).

Da mesma forma que estou compreendendo as diferentes personalidades ao meu redor, também entendo que as minhas janelas não precisam mais ficar tão abertas. Posso me tornar mais seletivo, mantendo apenas uma fresta para que tudo o que é de mais fresco entre, sem obstáculos.

Não estou fechando as janelas por completo. Com a fresta, a janela vai continuar aberta. Porém, como eu quero passar menos calor no meu apartamento e, com isso, ter uma vida mais leve e um ar mais fresco (até mesmo para oxigenar o cérebro e os pulmões), a partir de agora, vai ter apenas uma fresta na janela.

Um novo ar passando mais rápido, refrescando tudo. Reciclando o ar pesado. Renovando tudo.

Dessa forma, eu consigo respirar melhor. E ver com maior clareza onde posso identificar os novos caminhos e horizontes a serem alcançados.

Mas vou continuar olhando para Florianópolis a partir da janela do meu apartamento. E olhando paras as pessoas, com as janelas da minha alma parcialmente abertas.


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@oEduardoMoreira