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Uma Inteligência Artificial quer ser presidente da Dinamarca

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Se você não está nada satisfeito com o fato das eleições presidenciais brasileiras ficarem condicionadas a nomes como Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro, saiba que a culpa é sua. Outras opções existiam, e você não votou nelas porque não quis.

Outra possibilidade bem plausível é o excesso de opções muito ruins disponíveis na disputa e, neste caso, você pouco pode fazer. Fugir para as montanhas ou votar pelo meteoro não fará com que alguém seja eleito.

Pensando nos dois cenários, o Partido Sintético da Dinamarca quer participar das eleições presidenciais do país com uma Inteligência Artificial, a Leader Lers.

 

A primeira IA candidata às eleições

O coletivo de artistas Computer Lars decidiu unir forças com a organização sem fins lucrativos MindFuture para fomentar a convivência entre humanos e a inteligência artificial. Por isso, criaram o Partido Sintético da Dinamarca para disputar o posto mais alto do governo do país com uma IA.

Leader Lars foi treinada como um político (e é aqui que eu acho que tudo vai dar merda), e conseguiu sua vaga com programas eleitorais dos partidos dinamarqueses que nunca conseguiram uma representação parlamentar nos últimos 50 anos. O objetivo dos seus responsáveis é comprovar se todas essas ideias consideradas perdedoras são boas o suficiente para que a IA elabora um programa de governo que seja atraente para os eleitores.

Bom, desde já eu fico na torcida para que os políticos dinamarqueses sejam pessoas íntegras e honestas. Se essa IA é treinada para ser um POLÍTICO, ela tem que tomar como base alguém ou um grupo de políticos. E eu detestaria imaginar o que poderia sair se a inspiração fosse os políticos brasileiros.

Se Leader Lars é ou não um bom político, isso ainda não sabemos. Porém, os eleitores já sabem que ele faz algo muito melhor que os políticos tradicionais: ouvir as pessoas. Qualquer pessoa pode conversar com a IA no Discord. E, de fato, essa é uma vantagem a favor da máquina. Quantas e quantas vezes nós pedimos para os nossos parlamentares, prefeitos, governadores e presidente para não roubar o dinheiro dos nossos impostos, e eles simplesmente não escutam o povo.

Quem sabe uma máquina ou um software de computador consegue ser mais honesto.

Para você conversar com esta inteligência artificial que, de novo, é candidata à presidência na Dinamarca, basta começar as frases com um ponto de interrogação (?). Leader Lars entende muitos idiomas, mas só poderá responder as questões em dinamarquês. E, sinceramente, isso não é um problema: afinal de contas, o Google Tradutor existe para esses casos.

Todas as consultas e propostas feitas ao Leader Lars foram adicionadas ao seu banco de dados e incorporadas ao seu plano de governo, e essa é a prova que o político virtual realmente ouve o povo. E isso é necessário para que a IA alcance o objetivo dos seus realizadores, que é atrair pelo menos 20% do eleitorado que não votou nas últimas eleições dinamarquesas.

Estamos considerando essa porcentagem de 20% como algo significativo, pois esse grupo simplesmente não se sente representado por nenhum dos grupos políticos estabelecidos no país. Logo, podemos entender que essa porcentagem de abstenção é composta por pessoas que não estão interessadas em nenhuma das posições políticas estabelecidas neste momento. Por isso, a IA precisa explorar a possibilidade de criar um novo grupo de eleitores que possam vir a se interessar por política a partir de suas ideias.

 

Boas ideias com números problemáticos

Uma das propostas que a IA escolheu como sua plataforma de governo foi estabelecer uma renda mínima básica de 14.000 euros por mês para todos os dinamarqueses (renda mínima… onde foi que vi isso… alguém chama o Eduardo Suplicy para vir aqui falar um pouco mais sobre esse assunto), um valor que simplesmente triplica o salário médio da população, que é de aproximadamente 5.000 euros por mês.

Tá, a ideia é ótima. O problema está no valor escolhido pelo Leader Lars. Nos aspectos financeiros, é impossível pagar 14.000 euros por mês para toda a população e, com isso, a proposta se torna inviável. Logo, ou esse político virtual está mentindo ou ainda precisa ser treinada para ter uma maior noção do que é um salário mínimo na Dinamarca.

Lembrando sempre que Leader Lars foi treinada também com base nas sugestões deixadas pelos eleitores no Discord. Ou seja, a população pode muito bem ter desvirtuado a máquina com a sugestão de um salário absurdo.

No final das contas, o Partido Sintético da Dinamarca quer mesmo que a Agenda 2030 da ONU inclua o compromisso de promover a coexistência entre humanos e a inteligência artificial, algo que ainda precisa se desenvolver a sério, inclusive nas questões legais.

E o mais curioso de tudo isso é que, para que Leader Lars possa concorrer ao posto de presidente da Dinamarca, o partido precisa de 20 mil assinaturas e, ironicamente, um candidato humano, que até foi escolhido, mas que seria condicionado a seguir todas as decisões tomadas pela IA.

Quero acompanhar um pouco mais de perto como essa história vai terminar.


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@oEduardoMoreira