Eu realmente quero entender isso.
Quando fui abordado por um “italiano legítimo” aqui em Florianópolis, em pleno Dia da Consciência Negra, ele tentou me definir. Afirmou que “eu não era negro”, e reforçou que quem deveria definir a minha cor de pele não era eu, e sim, o coletivo. Fiquei pasmo com essa declaração, pois ele entendia que tinha o direito de “se sentir italiano” (quando, na verdade, era um latino, como outro qualquer), e eu não poderia me sentir negro, mesmo com todos os traços etimológicos evidentes.
Ou seja, não é só com o Vinícius Júnior. Ao que tudo indica, é um traço cultural do brasileiro branco de descendência pseudoeuropeia. Mais uma vez, o eurocentrismo insiste em querer determinar qual é o lugar do povo preto. E no caso do jogador do Real Madrid, as fronteiras tentam ser impostas por pessoas que realmente acreditam que o local que ele alcançou não é dele de direito.
Não importa o quanto ele jogue. Não importa o quão melhor ele é em relação aos demais jogadores. Mesmo que ele faça gols na final da UEFA Champions League.
Ao que tudo indica, nada vai convencer o povo branco europeu que Vinícius Júnior é digno de respeito e empatia pelo seu talento, sua resiliência e, principalmente, por existir (e resistir) em um mundo que, de tempos em tempos, tenta fazer ele se curvar diante da ignorância e do preconceito.
Para quem não sabe, Vinícius Júnior, com apenas 21 anos, possui um Instituto no Rio de Janeiro, onde ensina o antirracismo para professores do município. O programa prevê o lançamento de um manual, o ‘Educação Antirracismo na Prática’. E isso é mais do que necessário no mundo que vivemos neste momento.
Por diversas vezes afirmei para meus amigos mais próximos e nas redes sociais que o racismo só será combatido de forma eficiente se o antirracismo for praticado pelos indivíduos. O “paradoxo da tolerância” deve ser uma realidade prática de nossas vidas. Não podemos mais tolerar o intolerante, da mesma forma que não toleramos o nazismo e o fascismo.
Aliás… fica um ponto de reflexão para as pessoas…
O nazismo exterminou 6 milhões de judeus durante o período da Segunda Guerra Mundial. E ninguém tolera o nazismo, com exceção de alguns poucos brasileiros idiotas que se acham alemães, mas não sabem sequer pedir um chucrute em Munique.
Por outro lado, o colonialismo europeu exterminou no mínimo 20 milhões de negros no continente africano durante o processo escravagista, sem falar naqueles que perderam a vida em navios negreiros, chicoteados e acorrentados, e de outros tantos que foram dizimados em diferentes países do planeta, pelas mãos dos europeus que dominaram o período de exploração de diferentes terras…
…e ninguém se importa com isso.
Só no Brasil, foram 5 milhões de negros escravizados.
Nesse momento, Vinícius Júnior enfrenta uma luta muito maior do que ele mesmo, mas com uma força descomunal, enfia o dedo na cara de um povo que, historicamente, entende que ele, Vini Jr, não deveria sequer existir.
Que dirá estar no topo.
Fica a reflexão.