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Vivemos em um “feudalismo digital”

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Se você pensa que tem todo o controle do conteúdo que você publica nas redes sociais, saiba que o seu pensamento não poderia estar mais errado.

Você usa redes sociais que contam com o controle sobre tudo o que você publica nas plataformas. E durante anos nós alimentamos esses serviços com dados, fotos e vídeos de forma gratuita, sem receber um centavo sequer pelo conteúdo publicado que, em teoria, é nosso.

E agora, vivemos em uma realidade que aumenta o conflito de interesses entre as partes envolvidas no processo: a cobrança dos usuários para seguir alimentando essas plataformas de informações.

 

Apresentando o conceito de feudalismo digital

Desde Theodore Vail (presidente da AT&T em 1908) até o surgimento de plataformas como Facebook e Twitter, a ideia do valor da rede de comunicação tem evoluído, e está impulsionando o crescimento exponencial dessas ferramentas. E isso acontece há muito tempo.

A introdução do “Feed de Notícias” em 2006 marcou uma revolução na interação social online, desencadeando controvérsias, mas solidificando a posição dominante do Facebook pela proposta de estabelecer uma ordem de veiculação de informações a partir da análise do comportamento do usuário.

Ao mesmo tempo, a criação do Twitter em 2006, inicialmente como Twttr, destacou-se no formato de comunicação instantânea por ser uma plataforma simples, direta e efetivamente orgânica. Muitos optaram pelo microblog para expressar o que pensa e até se informar sobre o mundo em tempo real, com notícias e comentários aparecendo na tela do computador ou smartphone no momento em que tudo estava acontecendo.

Com o passar do tempo, as duas plataformas desenvolveram mecânicas e soluções que aumentaram suas respectivas relevâncias junto ao coletivo. O surgimento de hashtags e o papel em eventos como a Primavera Árabe consolidaram a influência das plataformas junto ao coletivo.

O problema é que tudo isso criou um efeito colateral indigesto, que muitos consideram como uma espécie de “feudalismo digital”.

A evolução das redes sociais para um modelo feudal, em que os usuários contribuem massivamente para o conteúdo, se consolidou nas principais plataformas. Porém, o que muitos não pensam é que são as mesmas plataformas que detêm o controle absoluto desse conteúdo, resultando em uma relação desigual entre usuário e serviço.

E agora, tudo indica que essa desigualdade se tornará ainda mais flagrante.

 

Influencers são escravos das redes sociais

Plataformas como YouTube deram origem à era dos influenciadores, que são os usuários muito populares que são pagos para produzir conteúdo dentro do serviço. Mas a realidade prática é que apenas uma pequena elite consegue monetizar efetivamente os seus, enquanto a maioria trabalha sem remuneração.

E essa maioria contribui de forma direta para o abastecimento de conteúdo de todos os serviços. E esse mesmo conteúdo exibe a publicidade que beneficia de forma direta as redes sociais, que ficam com a maior fatia do bolo financeiro.

O modelo de feudalismo digital se disseminou para outras plataformas. Instagram, Twitch e TikTok fazem exatamente a mesma coisa que YouTube, Twitter e Facebook: os criadores geram conteúdo enquanto as plataformas lucram com a publicidade.

Outras mecânicas foram adotadas para perpetuar a prisão dos influenciadores nesses serviços. Facebook e Twitter passam a oferecer assinaturas pagas, enquanto a limitação do acesso às APIs se torna uma fonte adicional de receita dos serviços. E é claro que todos os lados envolvidos no processo vão reclamar de tudo isso: os programadores de softwares precisam pagar para que o seu app funcione direito com as plataformas, e muitas vezes esse investimento não se reverte em retorno financeiro.

Mas o que é realmente irônico em tudo isso é o fato de as plataformas quererem cobrar por dados gerados pelos próprios usuários, que contribuíram de forma direta para o sucesso desses serviços. É uma enorme desigualdade na distribuição de benefícios, pois nem os produtores de conteúdo são pagos de forma justa, e a grande massa de usuários não recebe um centavo sequer pelo trabalho de alimentar as plataformas de dados e conteúdo.

Mas é o mundo capitalista, minha gente. E ainda tem idiota dizendo que o grande mal da humanidade é o comunismo…

 

Tudo vira bosta

Você conhece o termo “Enshittification”? Não? OK, vou explicar.

O “Enshittification” é a transformação das redes sociais em um grande saco de bosta processada, em nome da rentabilidade das plataformas e dos ganhos dos produtores de conteúdo

Inicialmente, as redes sociais eram consideradas benéficas para os usuários. Mas as plataformas decidiram priorizar seus interesses empresariais em detrimento do conteúdo de qualidade, adotando práticas eticamente questionáveis. O resultado disso é uma queda drástica da qualidade do conteúdo e dos discursos promovidos pelos algoritmos, o que leva à uma grande insatisfação dos usuários de bom senso.

Twitter, Facebook e outras redes sociais se transformaram nesse grande saco de lixo porque basicamente as plataformas entenderam que discursos de ódio, discriminatórios e de ataque às minorias resultam em engajamento que, por sua vez, geram o aumento de visibilidade tão desejado pelos anunciantes.

Infelizmente, vivemos em um tempo em que o ruído causado por esses discursos depreciativos é muito maior do que o interesse em mensagens empáticas. E muitos usuários estão simplesmente se afastando das redes sociais em nome da saúde mental.

Fica o questionamento: será que o futuro da internet aceitará a atual realidade centrada no pagamento pelos usuários para seguir alimentando as redes sociais de informações, ou se surgirão alternativas descentralizadas que devolvam o controle aos próprios usuários?

É difícil imaginar a descentralização acontecendo novamente. Mas não podemos perder as esperanças.


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@oEduardoMoreira