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A volta das fitas cassete é uma realidade

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Quem poderia prever que as fitas cassete poderiam recobrar o seu protagonismo? Quem sabe o único que imaginou que isso seria possível foi o diretor James Gunn e a sua Awesome Mix, que é a trilha sonora do filme Os Guardiões da Galáxia.

E mais inesperado do que isso é ver que é o Japão que está devolvendo a relevância para as fitas cassete. E pelo volume de vendas, essa não é uma moda passageira ou hype temporário.

Neste artigo, vamos conferir o que acontece na terra do Sol Nascente, que está cada vez mais apaixonada pelas tecnologias do passado. Celulares e smartphones do passado são muito populares por lá, e agora são as fitas cassete que aumentam suas vendas de forma surpreendente.

 

No Japão, para variar…

Em um país conhecido por sua paixão pela tecnologia e pela inovação, muitos consumidores estão redescobrindo o charme dos meios físicos, especialmente das fitas cassete, que oferecem uma experiência sonora única e uma sensação de posse que o streaming não pode proporcionar.

É simples de entender: da mesma forma que acontece com os discos de vinil (que nunca desapareceram de fato), as fitas cassete são tangíveis, e você tem a certeza de que aquela música que você tanto gosta não vai desaparecer “do nada”.

Uma das lojas que testemunha esse fenômeno é a Tower Records em Shibuya, um dos maiores pontos de venda de música do mundo. A loja expandiu recentemente sua seção de cassetes para cerca de 3.000 fitas, que vão desde clássicos do rock e do pop até lançamentos recentes de artistas independentes. A demanda é tão alta que a loja tem dificuldade em manter o estoque.

 

Qual é o perfil do cliente das fitas cassete?

Quem são os compradores de cassetes no Japão?

Segundo o gerente da Tower Records, a faixa etária média é de cerca de 30 anos, mas há também muitos jovens e turistas estrangeiros que se interessam pelo formato.

Alguns são colecionadores ávidos, que buscam raridades e edições limitadas. Outros são novatos, que querem experimentar algo diferente e divertido.

Um dos atrativos dos cassetes é a possibilidade de criar suas próprias compilações, gravando músicas de diferentes fontes em uma fita. E… jovens… era dessa forma que nós, tiozões, criávamos nossas playlists.

Essa prática, conhecida como “side-B creations”, é uma forma de expressão pessoal e de compartilhamento de gostos musicais. A loja em Shibuya não apenas vende cassetes, mas também reprodutores portáteis e gravadores, que têm sido muito procurados pelos clientes.

 

Os inconvenientes das fitas cassete

É claro que os cassetes não são perfeitos, e quem está chegando no movimento precisa saber o que terá que lidar ao utilizar esse formato de consumo de músicas.

Quem viveu nos anos 80 e 90 sabe dos problemas que eles podem causar, como fitas estiradas, enroladas ou mastigadas por reprodutores defeituosos.

Além disso, a qualidade do som depende muito da escolha de fitas e aparelhos reprodutores robustos e de boa qualidade. Mas tudo isso também fazem parte da experiência de uso do formato, que exigem um cuidado especial e uma atenção maior do que os meios digitais.

 

Por que as pessoas estão voltando para as fitas cassete?

Os motivos para o resgate do cassete são variados.

A nostalgia, sem dúvida, é um fator importante no retorno do cassete. A geração que vivenciou a era dourada do formato, nos anos 80 e 90 agora busca reviver memórias e sensações através do som único das fitas.

Mas o público vai além dos nostálgicos. Jovens entusiastas, fascinados pela estética vintage e pela qualidade de som peculiar do cassete, também se juntam à comunidade de apreciadores do formato.

E no Japão em particular, os “jovens vintage” são em grande número, liderando uma tendência de comportamento que é global. As gerações mais novas estão buscando as experiências do passado como uma forma de se conectarem a elementos mais efêmeros dos diferentes segmentos da sociedade.

A “fadiga de streaming”, a sensação de saturação com a quantidade ilimitada de músicas disponíveis online, somada à dificuldade de se ter a posse real do conteúdo digital impulsionam um desejo por experiências mais tangíveis. Essa busca pela materialidade da música encontra nos cassetes um refúgio nostálgico e, ao mesmo tempo, inovador.

Christopher Nolan, o aclamado diretor de cinema, recentemente defendeu a importância de se ter uma coleção física de filmes em Blu-ray, argumentando que a experiência de assistir a um filme em um disco físico é superior ao streaming.

Essa mesma filosofia parece estar se aplicando ao mundo da música, com o cassete assumindo um papel de destaque nesse movimento.

Além da nostalgia, há também o fator econômico. Os cassetes são mais acessíveis do que os vinis, custando cerca de 1.000 yenes (seis euros) cada um. Isso os torna uma opção mais viável para quem quer ter uma coleção física de música sem gastar muito.

O ressurgimento do cassete no Japão mostra que há espaço para diferentes formatos de música no mercado, e que cada um tem seu valor e sua beleza.

Os cassetes não são apenas objetos antigos, mas também símbolos de uma cultura musical diversa e criativa. Sem falar que é um dos formatos mais democráticos e portáteis para o consumo de música.

Ver as fitas cassete voltando é sim algo inusitado e, ao mesmo tempo, bem interessante. É mais uma prova de que tudo nessa vida é cíclico, e que a necessidade de se sentir dono da trilha sonora de suas vidas, as pessoas buscam maneiras de manter esse conteúdo em suas mãos, de alguma forma.


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