Eu estou entediado.
Na verdade, não estou. Mas muitos que estão lendo este post já disseram essa frase olhando no espelho, e se sentiram culpados por isso. Bom, eu posso dizer que você não tem motivos para se incomodar com essa epidemia do tédio, pois isso está acontecendo com mais pessoas do que se imagina.
Vivemos nesse momento um fenômeno de hiperconectividade, onde sentimos a necessidade de acabar com um tempo ocioso para continuar a permanecer entediado.
E – pasmem – descobriram que ficar entediado é algo positivo para o ser humano.
Quem poderia prever, não é mesmo?
O que é o tédio exatamente?
O maior especialista em tédio no mundo é John Eastwood, professor da Universidade de York (Canadá). Ele define o tédio como “a experiência aversiva de querer, mas não poder, participar de uma atividade satisfatória”.
Traduzindo: é quando você não consegue ficar atento a algo específico, mesmo que você queira, e culpamos o resto do mundo por isso.
Quando ficamos entediados, normalmente procuramos estímulos em distrações externas. Porém, de acordo com Eastwood, essa é a pior solução, uma vez que o mundo exterior vai atuar como uma espécie de “areia movediça”, fortalecendo o controle do tédio e deixando o indivíduo ainda mais alienado.
As pessoas mais entediadas não são apenas as mais focadas nos aspectos externos, mas também contam com maior dificuldade em identificar as suas próprias emoções. Logo, quanto mais nos concentramos em encontrar coisas que chamam a nossa atenção para nos distrair, mais nos desassociamos dos nossos próprios desejos.
Resultado: nos tornamos pessoas perdidas em nossas vontades e ainda mais entediadas.
O tédio tem vários outros aspectos negativos
O tédio sempre foi muito pouco estudado ao longo da história. Porém, muito se aprendeu sobre ele nos últimos anos.
Hoje, sabemos qual é a relação entre o tédio e a raiva e com outros aspectos de nossa vida, como por exemplo o jogo patológico, a má condução de um veículo, os baixos níveis de realização pessoal e com a agressividade ou impulsividade.
O tédio sempre pode atuar como gatilhos para todos esses comportamentos e atitudes.
Mesmo assim, é importante se sentir entediado de vez em quando. É para o nosso próprio bem.
Qual é a utilidade de se sentir entediado?
Em termos gerais, se sentir entediado faz com que o indivíduo queira participar de atividades mais significativas que aquelas que precisam ser cumpridas naquele momento. Ou seja, a desagradável sensação de tédio lembra as pessoas que existem coisas mais importantes e valiosas para fazer na vida.
Aqui, não é difícil entender que o grande problema não é se sentir entediado, mas sim como utilizamos esse tédio. Lembrar que existem coisas mais importantes para fazer na vida é algo positivo, mas procurar quais são essas coisas pode ser o grande problema.
E isso acontece porque a perspectiva cultural atual está consumindo a outra opção invisível que precisa se tornar visível. Na realidade, o grande problema do tédio está na busca externa, quando esse sentimento deveria se converter em uma oportunidade para descobrir as novas possibilidades existentes e até mesmo o conteúdo dos próprios desejos que estão ocultos dentro de nossa essência.
Nossa… isso foi profundo…