A Apple precisa rever os seus conceitos no cinema. E rápido, pois o que aconteceu no Oscar 2024 chega a ser algo constrangedor para uma empresa do seu porte.
A 96ª edição do Oscar consolidou uma mudança de paradigma na indústria cinematográfica. O streaming, que nos últimos anos ganhou relativa relevância na premiação, teve um desempenho discreto, com apenas um prêmio para o curta-metragem da Netflix “A Maravilhosa História de Henry Sugar”.
Se a Netflix mais uma vez se lamentou por não vencer o Oscar de Melhor Filme (dessa vez por “Maestro”, que foi milimetricamente pensado na premiação), a situação da Apple é ainda mais constrangedora. A ponto de levantar dúvidas se essa estratégia está realmente funcionando.
13 indicações, US$ 700 milhões, 0 Oscars
A Apple, que havia apostado alto em 2023 com três grandes lançamentos, foi a plataforma mais impactada pelo revés. “Assassinos da Lua das Flores”, de Martin Scorsese, recebeu 10 indicações, mas não levou nenhum prêmio. “Napoleão”, de Ridley Scott, teve apenas 3 indicações técnicas, também sem vitórias.
O filme de Scorsese até que foi reconhecido para receber tantas menções. Porém, consolidou o diretor como o maior perdedor da história do Oscar, já que é o único que tem três filmes com pelo menos 10 indicações que não receberam nenhuma estatueta (os outros dois foram “Gangues de Nova York” e “O Irlandês”).
Já “Napoleão” nunca teve tanta força ou visibilidade de público e crítica, e mesmo com Joaquin Phoenix liderando o elenco dentro de uma grande produção, o filme quase passa desapercebido da maioria dos mortais.
Em 2023, a Apple investiu US$ 700 milhões em “Napoleão”, “Assassinos da Lua das Flores” e “Argylle”, este último também indicado ao Oscar, mas um grande fracasso de bilheteria.
“Napoleão” ainda conseguiu recuperar o seu orçamento, mas “Assassinos da Lua das Flores”, que custou para os cofres da Apple nada menos que US$ 215 milhões, não teve o mesmo sucesso.
Ironicamente, Martin Scorsese recebeu um orçamento de um filme da Marvel, algo que ele adorou criticar para o grande público. Mas nem todo o dinheiro do mundo salvou o seu mais recente filme de ser um fracasso de bilheteria e um completo ignorado no Oscar 2024.
Veja só como são as coisas…
Quando nem toda a qualidade do mundo salva
A estratégia da Apple no cinema se diferencia da Netflix.
A gigante de Cupertino prioriza a qualidade à quantidade, investindo em produções de alto orçamento e com grandes nomes do cinema. O problema é que nem sempre o dinheiro é a solução para todos os seus problemas.
Vamos pegar o exemplo do filme que a Apple pegou do Amazon Prime, “CODA” (no Brasil, “No Ritmo do Coração”). A empresa de Tim Cook adquiriu os direitos desse filme por ridículos US$ 25 milhões, e o longa que estreou no Festival de Sundance levou 3 Oscars em 2022.
Tudo bem, você pode até questionar a qualidade desse filme, ou se ele realmente merecia vencer em um ano onde tudo estava de ponta a cabeça por causa da pandemia. Mas ao menos este é um filme com riscos muito menores, e foi reconhecido de alguma forma pela Academia de Hollywood.
Diferente de “Assassinos da Lua das Flores”, que é o mais novo “esquecido no churrasco” do Scorsese.
No streaming, “Napoleão” e “Assassinos da Lua das Flores” foram os mais vistos na Apple TV+, confirmando que a estratégia da empresa de oferecer conteúdo exclusivo de alta qualidade funciona com a sua audiência.
O problema aqui é que a falta de reconhecimento no Oscar levanta questões sobre a efetividade dessa estratégia para se consolidar em Hollywood. De nada adianta agradar o assinante se você não conquista o coração dos votantes da Academia.
A Apple realmente precisa rever os seus planos para prosperar no cinema. Quem sabe aumentar a diversidade de lançamentos pode ajudar, ou buscar uma proposta mais próxima ao que a Netflix está fazendo.
Ou ir pelo caminho mais fácil: adquirir logo a Paramount para ter um estúdio de cinema para chamar de seu. Dessa forma, vai conseguir extrair a qualidade em função da quantidade sem muito esforço.