Para qualquer pessoa considerada especialista em cinema, “Cidadão Kane” é considerado o melhor filme de todos os tempos. Isso mesmo que você acabou de ler: este título não é de “Vingadores: Ultimato”.
A escolha pela obra de Orson Welles se dá por uma série de contextos históricos e técnicos, onde o principal deles é que a sua estrutura narrativa marca um “antes” e um “depois” na indústria de Hollywood, principalmente na mecânica para se contar histórias no cinema.
O grande problema é que “Cidadão Kane” teve um reconhecimento tardio entre os ditos “especialistas” de Hollywood da época que, mais uma vez, perderam o bonde da história.
Uma produção problemática
Durante a produção de “Cidadão Kane”, Orson Welles se inspirou em William Randolph Hearst para criar o personagem Charles Foster Kane, o que gerou uma intensa oposição por parte do magnata da mídia.
Hearst fez de tudo para impedir o lançamento do filme, exercendo pressão sobre o estúdio RKO e limitando sua exibição nas salas de cinema.
Apesar da resistência de Hearst, “Cidadão Kane” conseguiu chegar aos cinemas, mas com uma disponibilidade limitada. Essa estratégia resultou em um desempenho modesto nas bilheterias inicialmente, com salas vazias em algumas exibições.
Essa situação, somada ao fracasso de outros projetos, levou à saída de George Schaefer e, posteriormente, de Welles do estúdio que produziu o longa.
Nada disso impediu que o filme alcançasse o reconhecimento merecido. Bom… mais ou menos…
Muitas indicações e vaias no Oscar
O filme recebeu nove indicações ao Oscar, o que era algo expressivo para uma produção do seu porte (ainda mais com a baixa visibilidade que recebeu). Porém, “Cidadão Kane” ganhou apenas e justamente naquela categoria onde é considerado por muitos um divisor de águas: Melhor Roteiro Original.
No entanto, sempre que seu título era mencionado durante a cerimônia, ouviam-se vaias. A influência de Hearst nas mídias controladas por ele foi um fator determinante para essa recepção negativa de “Cidadão Kane”.
Mesmo sendo um filme rejeitado nos Estados Unidos, “Cidadão Kane” gradualmente ganhou prestígio internacional, especialmente na Europa após a II Guerra Mundial.
Sua exibição na televisão e o reconhecimento de críticos e historiadores contribuíram para sua consagração como uma obra-prima da sétima arte, sendo um filme definitivo para muitos especialistas.
Após anos de ostracismo nos EUA, o filme finalmente foi reconhecido como uma das maiores obras cinematográficas. Sua reputação cresceu ao longo das décadas, culminando com sua eleição como a melhor película de todos os tempos em várias ocasiões.
Apesar de perder esse posto de “melhor filme de todos os tempos” para “Um Corpo Que Cai” (Alfred Hitchcock, 1958) em 2012, “Cidadão Kane” continua sendo uma referência no mundo do cinema.
E assim será. Até o fim da chamada sétima arte.