Sei que estou pegando muito no pé do Oscar ultimamente. Acontece que a premiação da Academia de Hollywood sempre foi injusta, e a edição 2024 teve as suas doses de absurdos nos filmes esnobados.
Ver Scorsese sem um Oscar em um filme com 10 indicações, “Vidas Passadas” sendo ignorado e a (agora) eterna esnobada em Greta Gerwig com “Barbie” ainda martelam na cabeça de todo mundo, mesmo depois de quase duas semanas após a premiação.
A controvérsia se intensifica na categoria de Melhor Direção de Fotografia, onde “Zona de Interesse” foi notavelmente ignorado. E eu não sei se estamos preparados para essa conversa (já que ninguém estava preparado para o que o filme nos entregou).
Um filme com excelência visual
A cinematografia de Lukasz Żal em “Zona de Interesse” chama a atenção pela abordagem estética que se alinha de forma impecável com a proposta central da trama.
A busca pelo realismo levou Żal a utilizar técnicas inovadoras, como a exclusão de equipamentos de iluminação convencionais que poderiam tirar o aspecto crível da ambientação proposta pelo filme.
A equipe optou por utilizar luz natural do sol e lâmpadas vintage de 40 watts para criar atmosferas autênticas, o que resultou em imagens ainda mais imersivas. E essa fidelidade à proposta entregou alguns desafios para os profissionais de fotografia do longa.
O desafio de capturar cenas diurnas e noturnas com autenticidade exigiu soluções criativas, como o uso de câmeras térmicas FLIR. O uso dessa tecnologia gerou imagens que traduzem em calor alguns momentos do longa, o que se transmutou em sentimentos que são quase indescritíveis para quem assiste ao filme.
A resolução das imagens foi ajustada para padrões contemporâneos, resultando em uma estética perturbadora e envolvente. Você não fica indiferente à proposta apresentada, reforçando a crueldade do enredo.
Foco nos atores
Quem assistiu “Zona de Interesse” entende muito bem que o foco central da história são as pessoas. O núcleo familiar que demonstra uma absurda indiferença ao horror que acontece do outro lado do muro.
Logo, era fundamental concentrar a visibilidade nos atores e seus personagens. Tudo ao redor existia para destacar os protagonistas, e a direção de fotografia trabalhou para entregar esse objetivo.
O diretor Jonathan Glazer e Lukasz Żal adaptaram seus métodos de gravação para garantir a naturalidade dos atores. O uso de múltiplas câmeras simultâneas permitiu capturar ações e diálogos de forma contínua, mantendo a integridade emocional das cenas.
Como resultado, o espectador está como testemunha dos acontecimentos, mas sem interagir com o filme em nenhum momento. Ao mesmo tempo, a chamada “perspectiva de Deus” entrega para a audiência uma proposta de monitoramento constante dos personagens, testemunhando suas falas e atitudes como se fosse o editor de toda a história, mas sempre capturando os momentos mais relevantes.
“Zona de Interesse” é um filme mais do que recomendado. Ele é necessário.
É um filme que não é feito para pessoas burras. Ele incomoda tanto quem entende a crueldade humana disfarçada em empatia e educação como aqueles que se identificam com o cinismo desse comportamento.
Esteja preparado para os gatilhos emocionais, pois é um filme que bagunça por dentro. O que faz desse um dos melhores filmes dos últimos 10 anos.