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Foi embora o João. O “chato” e genial João Gilberto…

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O baiano João era obcecado por música. Tanto, que se tornou um perfeccionista por convicção. E ele encontrou a perfeição. Mesmo desafinando.

A revista Rolling Stone considera o João o segundo maior artista musical de todos os tempos, ficando atrás apenas de Tom Jobim, que transformou em música várias de suas criações. Mas como estamos aqui para falar do João, eu particularmente achava ele um chato como pessoa. Insuportável. Temperamental.

Como eu também sou com a música. Defeitos de quem buscam a perfeição, mesmo sabendo que a perfeição não existe.

Mas os problemas de temperamento do João eram suplantados pela sua alma musical e visão artística singular. Criar um gênero musical completamente novo, que influenciou artistas do mundo inteiro, e ser a inspiração de tantos outros gênios da música que vieram depois dele é um legado muito maior do que a sua chatice nos palcos e fora dele.

Não dá para dimensionar o João. Ele é muito maior do que eu, você e uma nação inteira. Não dá para calcular o que significa perder o João.

Vai embora um dos mais importantes capítulos da história da música brasileira. Vai embora o inventor da bossa nova, o gênero que colocou o Brasil definitivamente no cenário fonográfico global. Por causa dele, o João ganhou dois Grammys. Foi o primeiro estrangeiro a conquistar duas importantes categorias da premiação.

O João é importante a ponto de artistas como Michael Jackson e Paul McCartney se permitirem ser influenciados pela bossa nova. Sua criação fez com que o mundo conhecesse a harmonia dos conjuntos de semitons, e compreendesse que existe uma proposta de afinação nas dissonantes.

João fez o errado dar certo. Entregou a perfeição na imperfeição proposital. Superou a beatlemania para mostrar que a música brasileira é rica, criativa e envolvente.

João deixou um dos maiores legados da humanidade. Deixou a sua visão musical genial, que inspira a todos que apreciam a boa música. E a partir de hoje, eu vou parar de lembrar do João como o chato perfeccionista, para pensar na sua música, e no quanto ela significa na minha formação musical.

Sem ele, eu jamais poderia conhecer tantas coisas boas na minha vida. Por isso, eu só tenho a agradecer ao chato do João.


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@oEduardoMoreira