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Google, e o mal do “incentivo reverso”

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Quando um governo tem problemas com ratos, ele oferece recompensas para cada rato morto. Com o passar do tempo, você tem vários ratos mortos no meio do caminho, mas isso gera um problema ainda mais grave: como se livrar dos animais em estado de decomposição.

Esse é o “efeito cobra” dos incentivos perversos. No jargão popular, um incentivo perverso é aquela iniciativa que parece boa, mas que entrega resultados desastrosos. É o “a emenda é pior que o soneto” que seu pai fala de tempos em tempos, e você nunca entendeu por que.

Pois bem… o Google parece sofrer desse “efeito cobra”, o que resultou na morte do Google Stadia e de vários outros serviços da empresa.

 

Lance algo e você terá sucesso certo no Google

Nem mesmo quem defende que o Google é e sempre foi uma empresa Beta consegue defender o abandono do Google Stadia, que chegou ao mundo para revolucionar o mundo dos videogames e, na prática, nem chegou perto disso.

No passado, o fim de serviços como o Google Reader ou Google Wave também gerou uma enorme polêmica, já que muitos entendiam que essas mortes foram inexplicáveis, principalmente no caso do Reader, que sempre funcionou muito bem.

Os motivos para o fim dos serviços podem mesmo passar pelos aspectos financeiros. Neste caso, não é pela falta de dinheiro do Google (pois lá sobra dinheiro para criar e matar tantos serviços), mas por serem produtos ou serviços que não são rentáveis.

Mas um ex-funcionário do Google comentou algo que pode ajudar a explicar o que sempre aconteceu dentro da empresa: para ela, o que realmente importa lançar produto ou serviços, independente se a solução funciona bem ou é um enorme desastre.

Esse funcionário trabalhou no Google em 2012, e fala com todas as letras que a empresa sempre adotou um acrônimo que se alinha completamente com a proposta de “empresa Beta” que algumas pessoas me venderam ao longo do tempo: LPA, de “Launch, Promo, Abandon”, ou “Lançar, Promover, Abandonar”, em livre tradução.

Ele não está sozinho nessa ideia. Em 2018, um debate publicado no Hacker News apontava para a mesma filosofia, onde alguns acusavam o Google de “alimentar a besta dos lançamentos”, sem se importar se os produtos vão prosperar ou não, sem qualquer tipo de punição ou consequência em caso de problemas.

Mais do que isso: as chances de um funcionário prosperar no Google eram menores se ele não se envolvesse no desenvolvimento de algo grande, sem se preocupar muito com os resultados alcançados.

 

Será que a situação é tão séria quanto parece?

Há quem diga que as pessoas que fizeram tais afirmações negativas sobre o LPA do Google estão descontentes com a empresa por algum motivo, e os registros dessas práticas sempre remetem ao passado.

Ou seja, alguns alegam que o Google de hoje pode estar um pouco diferente.

Mas não é essa a sensação que fica quando testemunhamos a morte de serviços como o Google Stadia, com tamanha escala e expectativa gerada no mundo. Esse fato faz a teoria ser plausível, mesmo com um produto complexo como uma plataforma de streaming de jogos de videogames.

No final, fica a impressão de que o Google se diverte com essa história de lançar produtos sem se preocupar com a manutenção ou progresso dessa solução. Até porque cuidar de qualquer coisa é algo bem mais chato que conceber e construir.

Um exemplo do que estou falando está no fato dos fabricantes de smartphones Android em entregar novas versões do sistema operacional para os dispositivos que já estão no mercado, optando por investir tempo e dinheiro no lançamento de novos produtos (e promover a famigerada obsolescência programada).

Se tudo isso for verdade, o Google tem nas mãos um sério problema de “incentivo perverso”. Matar o Stadia pode ter resultado na promoção de algumas pessoas dentro da empresa. Porém, os ratos mortos estão nas mãos dos usuários, que terão que lidar com o cheiro podre da plataforma em plena decomposição.

Ainda bem que existe a concorrência nesse segmento. Você sempre pode olhar para o lado e encontrar algumas alternativas no mundo da tecnologia.


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@oEduardoMoreira