Ironias da vida.
O Google está demitindo geral nos últimos meses, mesmo depois de apresentar lucros e investimentos em parcerias e tecnologias. E onde está a ironia dessa realidade cujo roteiro é escrito de forma muito melhor que qualquer coisa que a Shonda Rhimes produziu até hoje?
Simples: o conselheiro delegado do Google e CEO da empresa, Sundar Pichai, recebeu um aumento de salário no ano passado, se tornando um dos mais bem pagos nos Estados Unidos… e ele tem a cara de pau de confirmar que a empresa vai demitir mais funcionários no futuro.
Don’t be Evil, Google!
Um memorando interno assinado por Sundar Pichai vazou, e ele confirmou para os trabalhadores que “teremos objetivos ambiciosos e investiremos em nossas grandes prioridades este ano”.
Para quem recebe um memorando desses, pode até ser algo positivo ver que a empresa está disposta a investir para se tornar ainda maior. Mas ao avançar na leitura, constatamos que Pichai fez mesmo é bullying com os futuros desempregados.
“Na realidade, para ter a capacidade para este investimento, teremos que tomar decisões difíceis (que incluem demissões, frear as contratações e reorganizar os departamentos). (…) Estas eliminações de postos não estão na escala das reduções do ano passado e não afetarão a todas as equipes. (…) Sei que é muito difícil ver colegas e equipes afetadas.”.
Sério… se eu sou funcionário do Google e leio um troço desses, eu suspenderia o consumo do meu iogurte com Sucrilhos de graça, deixaria imediatamente a sala de descanso dos funcionários lotada de comida e ia direto na sala do Sundar só pra dar na cara dele.
A moda atual das gigantes de tecnologia é demitir em massa. Todas, em maior ou menor grau, ou estão fazendo isso ou ainda vão fazer. A dúvida entre os empresários é: mando embora um monte de gente de uma vez, ou vou eliminando aos poucos, em modo Round 6?
Não há uma resposta clara para isso. Demissões em massa pode resultar em perdas involuntárias de pessoas ou departamentos considerados essenciais, e demitir aos poucos podem colocar os trabalhadores em uma situação limite, causando inclusive a desmotivação e pouco comprometimento com a empresa.
O Google optou pela segunda alternativa (eliminação aos poucos), e reforça que as demissões de 2024 tem como principal objetivo simplificar a execução e impulsionar a velocidade de algumas áreas, tal e como argumentou o Meta para demitir alguns dos seus funcionários.
Só se esqueceu de avisar também que as demissões garantem as margens de lucro das empresas e os altos salários dos principais executivos. Mas isso é algo que não precisa ser dito de forma tão explícita, não é mesmo?
Google também está demitindo no Brasil
Na última terça-feira (16), uma leva de funcionários brasileiros do Google tiveram que dizer adeus para os seus colegas de trabalho e, principalmente, para a cafeteria tão recheada de comida.
Os funcionários do Google no Brasil afetados pela decisão já perderam acesso aos seus sistemas, e a empresa é pouco transparente sobre o assunto, principalmente para os (agora) desempregados. Não sabemos quantas pessoas foram demitidas e como vai ficar as questões trabalhistas pendentes.
Já o Google se limita a afirmar que tudo é parte do seu processo rigoroso de estruturação dos times de publicidade, e que algumas centenas de funções ao redor do mundo são eliminadas do organograma.
A empresa reforça também que os funcionários afetados poderão se candidatar às vagas abertas em outras áreas de atuação no Google… e é aqui que está o “pulo do gato” das big techs.
Eu explico: na época da pandemia, várias empresas de tecnologia contrataram profissionais para cobrir a demanda operacional, e pagaram salários altos para uma galera desenvolver as tarefas em longas jornadas laborais ou em modo remoto.
Agora que tudo voltou a algo próximo ano normal e os lucros dessas empresas não é o mesmo dos anos da crise sanitária global, o desespero em ver esse dinheiro entrando é tamanho, que as demissões acontecem para manter os números inflados.
De qualquer forma, centenas de funcionários do time de vendas de publicidade do Google no Brasil serão demitidos. Antes, vários trabalhadores das divisões do Google Assistente, Pixel, Nest, Fitbit e do time de realidade aumentada foram desligados da empresa.
A ideia do Google é demitir cerca de 30 mil funcionários em todo o planeta APENAS DO DEPARTAMENTO DE MARKETING, para poder investir mais em Inteligência Artificial e Machine Learning.
Quando mais de 12 mil funcionários dos times de engenharia e produtos foram demitidos do Google em janeiro de 2023, Sundar Pichai justificou a decisão por causa da “realidade macroeconômica difícil e distinta”.
Porém, nem isso impediu que o seu salário aumentasse. Que irônico… ou hipócrita, dependendo do ponto de vista.
E ainda tem gente que entende que é ideologia defender a classe trabalhadora…