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O medo do japonês ir ao colégio tem um nome: “futoko”

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Tem certas coisas que não gostaríamos de ficar sabendo que acontecem ao redor do mundo, e é muito complexo para mim ficar simplesmente questionando sobre costumes e tradições de povos milenares quando a questão é mais complicada que o superficial de minha percepção ignorante.

Logo, vou apenas apresentar os fatos deste artigo apenas e tão somente como uma forma de compartilhar o contraste de um coletivo em relação aos demais, como uma espécie de reflexão sobre esses eventos para (quem sabe) olhar para nós mesmos e mudar alguma coisa.

De qualquer forma, hoje você vai compreender melhor o que significa o termo “futoko”, e como ele está tirando o sono das autoridades japonesas.

 

Entendendo melhor o contexto geral

Para quem não sabe, entre os meses de agosto e setembro (especialmente no primeiro dia de setembro), o Japão registra um aumento significativo no número de suicídios. O fenômeno está diretamente relacionado ao início do ano letivo japonês.

Em paralelo a isso, dados recentes revelam que o número de alunos de ensino fundamental e médio ausentes por mais de 30 dias sem justificativa atingiu números históricos, com um aumento constante nos últimos 10 anos.

Esse comportamento de evasão escolar é conhecido no Japão pelo termo “futoko”. Para ser mais preciso, a expressão faz referência a a crianças que não frequentam a escola por mais de 30 dias, excluindo razões financeiras ou de saúde.

Entre os motivos mais comuns que resultam no abandono do aluno na escola estão as dificuldades de aprendizagem, problemas psicológicos e ansiedade. Todos esses sintomas podem levar ao isolamento social e, eventualmente, aos problemas mais sérios.

Muitos pais e profissionais da educação insistem em achar que as crianças não passam por isso, já que vivem uma existência muito mais fácil e tranquila que os adultos durante a infância. Porém, não se dão conta de como pode ser difícil para algumas pessoas passarem por essa fase da vida.

Outros problemas mais graves podem resultar na recusa de uma criança japonesa em ir para a escola, indo de problemas familiares, bullying, até o estresse e a pressão derivados dos estudos. Alguns casos relatam desconforto fora do ambiente familiar e até mutismo seletivo.

 

Algumas escolas são parte do problema

O termo “futoko” também pode ser encarado como uma crítica às instituições com regras rigorosas em resposta à violência juvenil. Algumas escolas chegam a violar os direitos humanos dos estudantes, limitando sua diversidade e ameaçando a integridade física e psicológica dessas crianças.

O descontentamento com as normas escolares rígidas e o fenômeno do absentismo levaram à abertura de escolas alternativas, que enfrentam problemas para serem reconhecidas pelo governo local e pelos pais, que optam por manter os métodos antiquados em nome da tradição e do perfil mais conservador com os filhos.

A educação em casa também é permitida pelo governo, mas os alunos devem permanecer matriculados nas escolas locais. E o tempo mostrou que o home schooling, quando não é feito com a ajuda de profissionais da educação, pode se tornar um desastre ainda maior para o estudante.

 

Os efeitos práticos do “futoko”

E o reflexo prático de todos esses problemas não poderia ser diferente, e é o mais desastroso de todos.

Em 2022, houve um aumento drástico nos suicídios de alunos do ensino fundamental e médio, ultrapassando a casa dos 500 casos. Agravam este cenário (além da pressão acadêmica), o medo do assédio nas escolas (por parte de colegas de classe e professores) e os impactos diretos das redes sociais nos estudantes.

O assunto está em plena discussão no Japão, mas entendo que podemos aprender algumas coisas com tudo isso.

Sei que este não é um dos assuntos mais agradáveis para um post em um blog que normalmente faz piadas com o mundo da tecnologia. Mas acredito que essa discussão precisa ser abordada também no Brasil.

Os métodos educacionais estão defasados em relação ao coletivo escolar que é bem diferente daquele existente no passado. As crianças e adolescentes contam hoje com outros métodos de interação social, o que interfere diretamente no comportamento de crianças e adolescentes.

Cabem aos pais e educadores serem conscientes de que estão lidando com uma geração que é completamente diferente daquelas estabelecidas há 50 ou 60 anos atrás, e os problemas de saúde mental aparecem mais cedo nos membros das gerações Millennial e Z.

Por isso, é fundamental que os adultos que podem mudar alguma coisa no meio de funcionamento da educação no Brasil atentem para esses detalhes. E parem de achar que tudo o que acontece com uma criança é frescura ou bobagem.

Caso contrário, essas crianças vão se tornar no futuro adultos tão frustrados quanto os adultos do presente.


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@oEduardoMoreira