Muitos de vocês vão ter que encarar daqui a pouco a famigerada ceia de Natal (e na semana que vem, a ceia de Ano Novo). E eu entendo aqueles que vão para essa convenção social por pura obrigação.
Em muitas famílias (na minha, inclusive) o clima azedou com tantas divisões de visões de mundo, principalmente por causa de política. E é preciso adotar algum tipo de estratégia para sobreviver aos parentes insuportáveis com pautas desconfortáveis na mesa do jantar.
Neste artigo, vou compartilhar com você algumas dicas para evitar essa vergonha alheia que é ser obrigado a dialogar com alguém que você não suporta durante a ceia de Natal… apenas porque é Natal.
A socialização na Era Pré-Digital
Para entender melhor o contexto das dicas que serão compartilhadas a partir de agora, vamos voltar para um passado não muito distante. Para uma década que muitos membros da geração Millennial estão voltando para entender como o mundo era antes da internet se tornar o centro de nossas comunicações.
No final dos anos 90, Jorge Otero, vocalista dos Stormy Monkeys, percebeu a crise na indústria musical. Mesmo assim, lançaram seu primeiro álbum, enfrentando algumas dificuldades.
O esforço rendeu um resultado prático: a banda conseguiu participar da reedição do festival de Woodstock em 1999, algo que não sabemos se é tão bom de ser relembrado, principalmente pela forma que essa edição do evento terminou.
No meio dessa jornada, Jorge decidiu explorar o marketing digital para promover a sua banda. E uma das coisas que ele descobriu é que as pessoas estavam se aproximando e formando pequenos grupos pelas afinidades biogeográficas.
Otero percebeu que compartilhar experiências musicais não gerava e-mails, mas sim a formação de grupos baseados em tempos e espaços compartilhados, como escolas, universidades ou locais de trabalho.
Dessa forma, falar sobre música nesses grupos era uma forma barata e acessível para promover o Stormy Monkeys entre as pessoas que gostam de música. Um movimento natural quando olhamos exclusivamente para a ideia desses grupos conversarem sobre algo que gosta.
Expandindo a ideia para a nossa vida prática, estabelecer afinidades nas conversas durante as ceias de Natal e de Ano Novo é uma ótima estratégia para se isolar de pessoas que pensam diferente de você.
A evolução do conceito nas últimas três décadas
Ao longo de quase 30 anos, as dinâmicas de comunicação entre as pessoas mudaram muito. Porém, as famílias grandes que acabam se reunindo durante as festas de final de ano continuam a representar o modelo clássico de pequenos grupos de conversas, onde a escolha dos membros não é feita, mas sim, imposta.
Eventos familiares normalmente geram perguntas difíceis, como “e os namoradinhos?”, “você ainda não arrumou um emprego de verdade?” ou “em quem você votou para presidente em 2022?”.
Se preparar para este tipo de abordagem invasiva e inconveniente é fundamental para permanecer com a sua saúde mental intacta durante a ceia, com respostas simples e rápidas para lidar com tópicos sensíveis.
Também existe a ideia de discutir previamente com alguém na própria festa os tais tópicos mais polêmicos, interrompendo a outra parte com a ajuda de alguém ou mudando o assunto rapidamente, para não deixar o clima pesado dominar a convivência.
Manter a calma em situações estressantes é um enorme desafio para muitas pessoas (eu, inclusive). E eu sei que muitos simplesmente são obrigados a passar as festas de final de ano em locais ou com pessoas que normalmente evitariam.
Por outro lado, é importante que você avalie os custos e benefícios de iniciar uma discussão em pleno final de ano. Dizer “eu encerro aqui” pode ser uma forma de preservar a paz e avaliar a importância da discordância com aquela pessoa.
Em muitos casos, deixar um burro falando sozinho é a melhor estratégia, pois só aquela pessoa vai passar vergonha diante de todo mundo.
A alta expectativa em torno do Natal pode levar à insatisfação individual. Se bem que tem muitas pessoas que eu conheço que já não geram expectativa alguma com as festas de final de ano.
De qualquer forma, é importante lembrar o verdadeiro significado do Natal. E aqui, não estou falando necessariamente em uma união incondicional entre pessoas que passaram o ano brigando.
Falo sobre reflexão, paz de espírito e amor-próprio. Natal pode até ser tempo de perdão, mas não de lobotomia. Você deve se dar ao direito de parar de sofrer por causa do outro, mas jamais esquecer o que aquela pessoa fez para você.
Em meio a tantas regras sociais, tente ao menos relaxar e aproveitar o momento. São poucas horas que passam rápido, mesmo que tudo pareça uma eternidade ao lado daquele cunhado insuportável.
Ainda bem que não vou precisar passar por isso neste final de ano. Yay!