O ano: 2005. A Apple estava se recuperando da quase quebra, e trabalhando na expansão de sua presença de mercado. O iPod era um sucesso comercial, mas Steve Jobs queria mais. Queria um passo além. Queria entrar no mercado de telefonia.
Jobs idealizou um dispositivo que combinasse a experiência musical do iPod com as capacidades de um celular. E diferente do que muitos podem pensar, esse dispositivo não foi o iPhone. Algo veio antes, mas não foi tão bom quanto poderia ser.
Essa ambição de Jobs resultou em uma parceria peculiar com a Motorola e no lançamento do Rokr E1, um aparelho que, apesar de promissor, se tornou um fiasco e quase frustrou os planos da Apple para o futuro.
Colocando em contexto
Eu nem precisava reforçar isso, mas… estamos falando de um produto apresentado em 2005. Logo, ele é um celular com alguns recursos específicos e discretamente mais avançados.
Mas em linhas gerais, o Moto Rokr E1 era considerado “honesto” para o seu tempo. Não era um Nokia (que tinha os melhores celulares da época), mas também não era um celular da CCE.
Pesando 109 gramas e compatível com as redes Tri Band (GPRS, nada de EDGE ou 3G aqui), o Rokr E1 tinha como principal problema o seu conjunto de processador com memória, já que foi isso que fez o dispositivo travar na mão do Steve Jobs.
O modelo conta com um processador com apenas 1 core, trabalhando com 5 MB de armazenamento. E como o sistema não era o Symbian, os travamentos eram mais frequentes.
E isso, levando em consideração que ele utilizava uma memória externa no padrão T-Flash, o que deixava o desempenho do dispositivo ainda mais empobrecido naquilo que mais interessava: o consumo de músicas.
Do mais, ele era um telefone bem interessante. Tela de 1.9 polegadas TFT LCD (com 260 mil cores), câmera traseira de 0.3 MP, conectividades Bluetooth e USB e bateria de 900 mAh que entregava até 230 minutos de conversação e 560 horas totais em standby.
Para a sua época, o Moto Rokr E1 até que é um dispositivo bem interessante. OK, ele realmente era bem ruim no seu funcionamento (e posso falar isso com propriedade, pois eu usei uma unidade do telefone), mas também não dava para reclamar muito.
Existiam dispositivos piores no mercado, e bater a Nokia era uma missão bem complicada. Steve Jobs se deu conta disso da forma mais traumática possível: com prejuízos financeiros.
Um casamento de conveniência
A parceria entre Apple e Motorola, no início, parecia um casamento perfeito. As suas marcas eram gigantes no seu setor, e a lendária empresa de telefonia móvel brigava por cada unidade vendida com ninguém menos que a Nokia.
A Apple buscava a expertise da gigante da telefonia móvel, enquanto a Motorola desejava integrar o iTunes e a biblioteca de músicas da empresa de Cupertino ao seu portfólio. É quase um “unindo a fome com a vontade de comer”.
O Rokr E1 foi o fruto dessa união. A ideia era boa, mas muito mal concebida, com detalhes técnicos e conceituais que apontavam para um flop desastroso.
Um celular com design atraente e capacidade de armazenamento para apenas 100 músicas, mas que prometia revolucionar a forma como as pessoas ouviam música.
Pena que ficou na promessa.
Uma demonstração para esquecer
A apresentação do Rokr E1 em 2005 aconteceu no Centro de Convenções Moscone em San Francisco, e foi um momento memorável para a Apple… mas não pelos motivos certos.
Steve Jobs, sempre confiante, subiu ao palco para mostrar ao mundo o futuro da música móvel. Só que todo o universo se esqueceu de combinar com ele.
A demonstração se tornou um pesadelo. O Rokr E1 travou durante a reprodução de músicas, deixando Jobs visivelmente constrangido e a plateia desanimada.
O Rokr E1 foi um fracasso comercial e de crítica, e essa apresentação apenas antecipou o que seria aquele produto no mercado.
As falhas técnicas, o design pouco intuitivo e o processo de transferência de músicas complicado frustraram os consumidores, que gostariam de receber toa a praticidade já existente no iPod.
A Apple aprendeu da maneira mais difícil a importância de um design amigável, de uma experiência de uso eficiente e de testes rigorosos antes do lançamento de um produto.
Aliás, a lição aqui não é só para a Apple, mas para todos os fabricantes de tecnologia. Só estamos mencionando um exemplo em específico. Vários outros aconteceram ao longo da história, e eu terei plena satisfação em compartilhar esses tropeços com vocês.
O fiasco que inspirou o iPhone
O fiasco do Rokr E1 fez Steve Jobs e a Apple pararem para pensar um pouco, reavaliando a estratégia de mercado e buscando uma nova solução para se fazer presente no mercado de telefonia móvel. Uma solução doméstica, de pleno controle da Apple e com o seu padrão de qualidade.
Menos de dois anos depois do fracasso do Rokr E1, a mesma Apple apresentou ao mundo em 2007 o iPhone, que combinou com sucesso a experiência musical do iPod com as funcionalidades de um celular, revolucionando a indústria e mudando para sempre a forma como nos comunicamos e consumimos conteúdo em multimídia.
E o resto é história.
O Rokr E1 foi sim um fracasso, mas desempenhou um papel importante na história da Apple. Sem ele, o iPhone não seria tão redondo no seu conceito e com a elevada qualidade que a empresa de Cupertino sempre entregou.
E o mais importante: a mesma Apple aprendeu o que não fazer para criar um smartphone verdadeiramente inovador.